Passado um ano de estudos para o vestibular, estudantes vêem com alegria o momento de começar a freqüentar a universidade. Garantida a vaga desejada, chegou à hora de se encontrar com uma nova realidade, novos professores e colegas, novas oportunidades num universo diferente. É importante assinalar que a universidade não é apenas um “colégio grande” no qual tudo funciona da mesma maneira que no ensino médio. Nela, tanto o sistema de controle quanto os relacionamentos se processam de forma diferente do que o habitual nas escolas, onde os estudantes tiveram seu percurso escolar desde o ensino fundamental. Quando nos referimos ao controle, estamos falando não apenas da vigilância quanto à freqüência, mas também da produção acadêmica que resulta em notas. Numa escola de ensino médio é comum, por exemplo, que os pais sejam chamados quando o jovem “cabula” aulas e/ou quando tem seu rendimento comprometido. Esse procedimento não é habitual numa instituição universitária, pois é esperado que o “jovem adulto” seja responsável pelo seu desempenho e se comprometa com seu aprendizado.
Também o relacionamento com o professor é diferente daquele comum no ensino médio. Se por um lado, em geral, há mais interação, por outro há mais distância, no sentido de não caber ao professor controlar o quanto o estudante acompanhou seu ritmo e realmente compreendeu e apreendeu o conteúdo. Cabe ao próprio estudante cuidar do seu acesso ao conhecimento e completar autonomamente o que foi assunto de aula, vale ressaltar que essa autonomia deve contar com a viabilização de condições necessárias para garantir a qualidade do tripé da universidade formado pelo ensino, pela pesquisa e extensão universitária. Ao professor, geralmente, cabe informar uma referência bibliográfica, que deverá ser consultada pelo estudante, o que para muitos é motivo de dificuldade. Este é um diferencial difícil de ser entendido ou aceito, sendo que muitos calouros se sentem confusos e abandonados à própria sorte. Por outro lado, para outros, esta é uma realidade vivida com profundo sentimento de alegria, que pode ser muito bem aproveitada, servindo para facilitar descobertas de autonomia e desenvolvimento. Há inclusive os que desistem do curso pelo fato de se sentirem “desadaptados” à nova realidade, sem falar do principal motivo que provoca a desistência, que é a falta de condições de permanência na universidade, afinal não basta o acesso à universidade, a permanência deve ser garantida também, o que exige uma atuação maior do governo federal/da reitoria na execução da Política de Assistência Estudantil.
É bom, portanto, que todos tenham essa consciência/clareza e se preparem para gerenciar suas próprias vidas (do ponto de vista acadêmico), buscando o acréscimo de informação/conhecimento na biblioteca, no contato com outros estudantes, na participação em seminários/debates, ou mesmo, recorrendo diretamente ao professor, além de se envolver num estudo sério e comprometido com vistas à superação do pensamento conservador ainda presente na universidade. Muitos estudantes pensam que o complicado é apenas ser aprovado no vestibular e ingressar na universidade e, idealizam que passada esta dificuldade, tudo será fácil e haverá garantia de aprovação daí por diante, assim como estará certo o seu futuro profissional. Sabe-se que hoje o diploma universitário em si não garante emprego nem rendimentos, o que não pode ser compreendido pela ausência de esforço individual, mas, sobretudo por conta dos problemas estruturais presentes na sociedade. A realidade do mundo universitário pode ser muito fascinante e permitir descobertas ricas e interessantes para qualquer pessoa através do convívio com sujeitos sociais que debatem suas proposições com fundamentos teóricos, próprio do conhecimento científico; da facilidade do acesso ao conhecimento; da troca com diversos tipos de produções acadêmicas; do contato com a cultura em geral e com a expansão do saber, em que as experiências individuais devem contribuir para o fortalecimento da coletividade. Sem dúvida, um universo fascinante que pode ser decepcionante ao nos depararmos com o sucateamento/o descaso com a universidade pública, neste caso, tem-se a necessidade de se atentar até que ponto a instituição garante acesso e permanência de qualidade, assim, nos resta um papel importantíssimo, qual seja, a luta por acesso ao nosso direito do ensino de qualidade, dentre outros, onde sejamos críticos e propositivos perante a realidade cotidiana vivenciada, para tanto, devemos nos organizar e sermos combativos. Bem vindos calouros! Parabéns pela aprovação!
Texto da professora Mariza Tavares Lima da PUC Minas com alterações feitas por estudantes de Serviço Social da UFS.
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